27 de março de 2010

Palavras de Diego de Menezes Dourado


Texto de apresentação para o Encontro com a Poesia Visual


O que significa a palavra? Pra que serve a palavra? Trata-se apenas de um conjunto de morfemas, uma função semântica, uma unidade da linguagem falada ou escrita? Palavra cruzada, palavras de amor, palavra cantada, palavra encantada, palavrão, palavra palavra? O que existia antes da palavra, a voz, o silêncio? E antes do silêncio, o que existia?

Bem, a palavra possui muitas propriedades visuais. Que revelam um rompimento com a forma discursiva da sua origem. Uma tensão que nos leva a perceber sua dimensão plástica: técnica, volume, cor, espacialidade, dimensão, forma, repetição, poética e outros atributos mais. Um poema, necessariamente, não precisa ser lido. Em Mallarmè, por exemplo, podemos vê-lo dançando no espaço.

A palavra além da sua significação possui, também, uma condição matérica, substâncias sólidas como a "pedra no meio do caminho", de Drummond. Vejam como esse poema é pura imagem, informação de um símbolo, fenômeno de um código. Verbalmente, podemos levar essa mesma questão a outros grandes poetas como Ferreira Gullar e João Cabral de Mello Neto, que se preocuparam com a questão da sonoridade, repetição e espaço da palavra.

A palavra e a imagem são uma intersecção, uma intersecção, uma "rua de mão dupla" onde os signos, verbais ou não verbais, traçam uma linha muito tênue entre uma e outra, Então o que é Poesia Visual? É um produto plástico ou subproduto literário? Não há uma resposta exata.

Na Antiguidade, na obra "Odisséia", sequência de "Ilíada", de Homero, já podemos perceber a palavra como estrutura sigificativa para um rol de imagens. Nas culturas orientais, muito acentuadamente, vemos por meio da Caligrafia o status da imagem.

A palavra é escrita, mas também desenhada. E muitas vezes, por conta da educação fomal com que a aprendemos, não nos damos conta desta segunda propriedade que incita o nosso pulso. É por meio da caligrafia que podemos reconhecer a carta de alguém ou admirar a sua forma. A assinatura e os garranchos também são desenhos.

"Um poema pode ter forma, tal qual uma árvore tem". A palavra quando incorpora um corpo também incorpora as propriedades formais ou informais deste corpo. Podemos ver isto nos poemas objeto de Joan Brossa ou nas suas instalações e intervenções públicas, que trazem à tona as possibilidades de explorar o material e a matéria que a palavra possui. De edificar uma idéia plástica através da escrita.

A Poesia Concreta (70), baseada em princípios experimentalistas, nos mostra a atomização da palavra e a criação de outros significados: o aspecto gráfico da letra, da cor e da disposição reunindo artistas plásticos, músicos e poetas em torno da questão da leitura visual.

O teatro, por exemplo, é a "corporificação" da palavra. A palavra cênica, transitável. Quando o suporte da palavra deixa de ser o papel e vai pro vídeo ou pra performance, chegamos à ilimitada fronteira misteriosa da imaginação. Onde a linguagem é "destruída" para criar dificuldades, pelo menos maiores, de se arriscar. Artistas como Wally Salomão, Hélio Oiticica, Torquato Netto e, atualmente, Arnaldo Antunes, com livros de artista e experiências sonoras mostram o afrouxamento da impossibilidade. Vejam, por exemplo, as partituras para quem não sabe lê-las tal qual os músicos. Tornam-se signos visuais. Se pararmos para pensar, se não sabemos o que uma palavra significa, o que acontece? Ela volta a ser gráfica. por isso, insisto na idéia de que para compreender melhor a Poesia Visual, precisamos nos desvencilhar da educação formal. Para perceber a palavra como um fator também pictórico e não, tão sómente, oral ou linguístico.

A palavra é um elemento que possui elasticidade expressiva. Que pode usufruir de outra mídias para ser veiculada e recriada. Grupos como o "Chelpa Ferro" são exemplares nesse sentido, pois fazem shows de música e falam de poesia e pintura ao mesmo tempo. Temos, por exemplo, artistas como Leonilson e Myra Schendel, trabalhando com a questão espacial e representativa da palavra como imagem.

Por fim, o que posso dizer é que a palavra e a imagem não são duas coisas tão diferentes assim. E que mesmo que suas origens tenham sido, no decorrer do tempo, construídas de maneiras diferentes, ambas derivam-se no final.



Diego de Menezes Dourado é artista visual, escritor e poeta e é natural de São Luiz, Maranhão.



7 comentários:

AL-Chaer disse...

"cLAp" "cLAp" "cLAp"

Excelente este texto de Diego de Menezes Dourado.

Tenho certeza de que foi uma ótima introdução para a "conversa" que vocês tiveram sobre Poesia Visual.

Parabéns !!!

AL-Braços
AL-Chaer

myra disse...

fantastico texto!!! parabens aos dois!!!! e muitos beijos, querida carmen!

Carmem Salazar disse...

queridos, obrigada! já vou contar pro Diego s/ os comentários...

bjs

Adrian Dorado disse...

Me parece muy apropiado el texto de este colega ...tenía que ser un "Dourado"!!!! :-)
Los felicito a ambos por el esfuerzo de acercar a los neófitos a este maravilloso mundo de la poesia visual que, en el fondo es a la poesía en todas sus formas. Me asocio en la intención de ampliar sembrando los campos.
Muchas veces las explicaciones,el uso de la razón abre las puertas más propicias de la sensibilidad.

Abrazos

Adrian Dorado disse...

Muy bueno el texto de Diego... es que tenía que ser un "Dourado" :-)

Lo cierto es que todo aquello que aclare y arrime al neófito a disfrutar de las poesía en todas sus formas es bienvenido y tan bien escrito, como este, es excelente.
Muchas veces hay gente que accede a nuevas formas por medio de la razón. Lo importante es abrir para que la sensibilidad detone, no importan los caminos y, es abido que, los teóricos, tienen su importancia.
Mis felicitaciones a ambos.
Abrazos

Carmem Salazar disse...

verdade, Adrian, "Dourados" já veem com esta vantagem no nome... é um sobrenome "brilhante", não? : )
um estímulo importante teres gostado do nosso projeto e do texto do Diego, pois aí está implícito nossa comunicação sobre poesia e literatura, desde o início qdo nos conhecemos, bem como nossa "sintonia" artística.

abração!
*imaginei que era pra valer um só dos teus comentários, mas gostei dos 2...

Carmem Salazar disse...

http://diegodemenezesdourado.blogspot.com/